terça-feira, 29 de junho de 2010

Paixão de 1,99

“Kro viver uma paixão barata, daquelas de 1,99 vendidas em feiras livres, quero uma paixão rasgada, toda de frases ridiculas e serenatas.”


Escrevi essa frase no Twitter outro dia e recebi vários questionamentos sobre o que seria uma paixão de 1,99. Ora, muito simples caros amigos, é aquela que você leva sem saber ao certo quanto tempo vai durar, a paixão sem garantias nem nota fiscal, que te espera em cada esquina a exibir-se chamativa e luminosa, tantas vezes espalhadas pelo chão ou em barracas improvisadas. É aquela paixão sobre a qual seu subconsciente o tempo todo te avisa não ter valor algum, mas que um dia, você resolve arriscar e levar.
Ah! E ela é tão bonita, tão atraente, tão cheia de luzinhas piscando! Por alguns dias (quem sabe horas) é o centro de todas as suas atenções, embora logo logo esteja reduzida a frangalhos, carbonizada ou compactada no próximo caminhão de lixo.
Deixar-se dominar por uma paixão dessas é queimar-se inteiro e num fogo só, é tornar-se um com essa chama, estalar, crepitar, arder e, num ínfimo segundo, extinguir-se, voltar ao estado natural de repouso na placidez morna das cinzas. Cinza, que é o estado natural dos desapaixonados.
Estar apaixonado, amigos, é a melhor coisa do mundo! É ser piegas, bobo, ridículo (muito ridículo) e démodé (e isso nunca sai de moda) é rir-se com besteirinhas, fazer com o outro, planos para o futuro e para o resto da vida que duram apenas alguns dias, é brigar e fazer as pazes mil vezes num período de poucas horas, é ouvir Waldick Soriano e chorar, é achar que todas as poesias de amor forma feitas pra vocês.
Essa paixão de 1,99 é um verdadeiro salto no escuro, ela não teoriza nem mede, não calcula nem contabiliza. Essa paixão vagabunda, made in China, não tem manual de instrução nem vida útil muito longa, mas é aquela que vai te fazer, num belo dia lá no futuro, sorrir sozinho ao simplesmente lembrá-la, que vai te fazer encontrar entre papéis uma poesia horrorosa e de pé quebrado que te fez a pessoa mais feliz do universo por alguns instantes.
A paixão instantânea amigos, de carnaval, de velório, de verão ou qualquer outra festa ou estação do ano, não respeita idade, Q.I, posição social ou gênero, ela é audaciosa e, ao mesmo tempo sutil e malemolente, temperada de mel e pimenta. A gente pensa que a vive, mas é ela que vive a gente, que conduz e dita as regras (ou a ausência delas). É dengosa e febril, ciumenta e exigente, musical, teatral, tragicômica. Eu acho que a paixão é baiana e, por isso tão universal.
Depois de extinta a chama, de juntos os caquinhos e atirados ao cesto de lixo ou à caixa de guardados, o que sobra é a tônica da vida. Paixão, inflamável combustivo.

2 comentários:

  1. Minha primeira passagem por aqui e amei o texto!
    Não concordo de todo, mas é de uma poesia simples que eu releria, releria, releria... Quem sabe até me convencesse...rs
    Eu tenho a ilusão do oposto: quero um amor de marca, de grife, daqueles com garantia infinita, quero o recibo, o manual de instruções e ainda por cima a entrega em minha casa. kkkkkkkkkk
    Eu sei, ilusão. =P

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  2. Nossa! Adorei seu texto e a forma como você escreve, parabéns!

    Também quero uma paixão de 1,99 rsrsr

    Um grande abraço!

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