sexta-feira, 25 de junho de 2010

Da filosofia de botequim ao divã do MSN

Sei, de ouvir falar, que numa época aí, as pessoas se reuniam em botecos para encontrar o sentido na vida no fundo do copo, talvez rolasse até uma analise escatológica feita a partir da disposição das guimbas no cinzeiro (mas isso aí já é lenda, o povo exagera). Bom, o fato é que assim se evitavam as tragédias modernas como depressão e suicídio. Reza a lenda que a filosofia de botequim, como ficou conhecida a tal prática, versava sobre um tudo, dos males de amor às revoluções que mudaram o mundo. Ali qualquer individuo (inspirado pela musa Ethílicas) virava um grande pensador, com direito a discípulos e seguidores. Cismando cá comigo mesma, pensei: Taí uma solução porreta para os meus dilemas existenciais, mas como nunca fui de freqüentar botequins (minha mãe sempre me dizia que lá só se encontra o que Maria perdeu no beco) e minha índole duvidosa com fortes tendências antissociais não me permite as rodas de amigos, a idéia foi prontamente descartada.

Já estava me acostumando à idéia de levar para o tumulo todas as minhas inquietações e elucubrações (dedico ao amigo Roustaing esse verbete que ele tanto ama, embora ainda esteja aprendendo usá-lo) quando recordei que, graças à evolução tecnológica e cientifica, hoje pessoas como eu dispõem de milagres como o MSN. Funciona mais ou menos assim, você tem um grupo de amigos com os quais não precisa manter contato físico, em um espaço virtual, onde se é possível ficar invisível (para aqueles momentos quando dá uma vontade louca de sumir). Mas o melhor de tudo é que se um dos amigos estiver enchendo o saco, você pode simplesmente bloqueá-lo ou, na pior das hipóteses, excluí-lo, o que na vida real poderia te render uns bons anos de cadeia. 

Em um desses dias de divagações sobre quem sou, para onde vou e de onde vim, decidi ir a um lugar onde todas essas angustias podem ser compartilhadas e, até quem sabe? Respondidas: o bate papo UOL! Entrei no chat (que é mais ou menos como um boteco pra gente antissocial) de sempre (não esse suas mentes poluídas), Idade 40 a 50 anos. Explico, de cabeça oca basta a minha, gosto de conversar com pessoa que tenham algo a agregar, por isso o chat citado.
Lá a filosofia corre solta, divagações a cem por um e o mais importante, as sessões de psicanálise são gratuitas. Encontra-se de tudo um muito, pode-se contar as mazelas que ninguém vai te olhar torto, pode-se fazer confissões sem ter que pagar a penitencia, pode-se até tomar vinho chileno sem ter que saldar a conta. Foi lá que Willian me disse, Vivi deixe de tolice, seja um pouco irresponsável, largue mão de tanto livro e vá ver a vida lá fora, deixe de ter medo de arriscar, suba ao quinto andar, mesmo que de lá sofra uma queda e quebre os ossos da sua alma, mas quando estiver marcada, cicatrizada, vais lembrar o quanto foi bela a vista de lá de cima. Vá beber com seus amigos, ah, não bebe? vá virar noites discutindo literatura e chegue no trabalho bêbada de sono de vez em quando. Pare de teorizar, medir, avaliar, às vezes só é preciso fechar os olhos e saltar. Deixe de ser boba, menina, arriscando se pode ganhar.
Willian me fez lembrar que a vida é feita de capítulos que se precedem e sucedem, capítulos findáveis e recomeçáveis e que nada é durável, nada é eterno, nós não somos eternos. Que não sou estranha nem esquisita (há controvérsias ainda) sou irritantemente diferente. No divã do MSN, o “conte-me mais sobre isso” é dinâmico, sem a prancheta de anotações (onde eu suspeito fortemente que os “psis” fazem suas listas de compras) dos sérios e ensimesmados pupilos de Freud. Em meio à terapia do riso e de fazer poesia, saber quem sou ou como surgiu o universo tornou-se uma preocupação para um outro dia qualquer. O bom da vida é rir, divagar e, sim amigo Roustaing, elucubrar. 
Viva a filosofia de botequim, o divã do MSN e as vãs elucubrações.

2 comentários:

  1. O_O Admito que estou morrendo de ciúmes dos teus textos! Rsrs.

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  2. oxe, fica não bobo, vamos escrever a quatro mãos? seu blog é lindo demais tbem!

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