quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A beleza do que não sou


Admiro a sutileza, quem consegue dizer coisas banais de um jeito mágico, poético, quem tira lirismo das tragédias cotidianas, enxerga o copo sempre meio cheio e extrai a beleza das coisas como se extrai o remédio da peçonha de alguns animais. Gosto dos desenhos, dos painéis irisados, dos textos cheios de sons, escritos para se ler, comer, sentir e cheirar, que de tão leves parecem flutuar, escorregar, derramar pelo papel, penetrando em minha pele, misturando-se à corrente sanguínea me deixando impregnada da leitura e com a sensação de mãos cheias de bonitezas e deleites.
Eu sou do tipo estabanada, aquela do “pronto, falei!” vai ver é porque a força, a agressividade, a doçura de fel que há em mim, não possa ser contida, aí extravasa pelos dedos e ganha o mundo. O texto vai assim, como um rio de lava, abrindo caminho e deixando marcas. Muitos nascem de violentas erupções. Não tenho heterônimos, eu poético, quase todos são autobiográficos, a maioria, impublicável, ou talvez, um excelente material para publicação póstuma. Sou um vinho virado vinagre.
O lirismo não me sorriu, a Musa não me deu trela, sobrou-me o texto seco, desprovido de meandros e subterfúgios, textos nascidos e mantidos nus, não têm manto que os cubra, suas vergonhas expostas e, quando (e sempre) existem, também as chagas.


Dedico esse post à querida Keudevir , cujo texto supre minha necessidade vital de boniteza e poesia.





Um comentário:

  1. poxaaaa eu babei agora:
    1 - eu adoro essa escrita crua, adoro, me acho piegas demais quando escrevo... e esse contraste... Nossa, já quis isso tantas vezes!
    2 - Já quis ser você então: essa forma direta, incisiva, corajosa...
    Eu sou molenga, quase pueril.
    Obrigada por dedicar esse post pra mim (eu fico toooda abestalhada, não estou acostumada, nunca acontece, rs)
    Lindas palavras, sempre!

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