domingo, 15 de agosto de 2010

Fale a verdade ou tenha amigos



Definitivamente, não dá para ser cem por cento verdadeiro e conservar as amizades. É incrível como as pessoas (inclusive eu) têm dificuldades para lidar com a realidade, aquela, vedete de revista masculina, nua e crua.
Quem vai visitar uma amiga recém parida e tem coragem de responder sinceramente à terrível pergunta que só se faz a uma amiga intima e quase irmã: você acha que estou muito gorda? Ou de contrariar a afirmação materna sobre o joelhinho agasalhado no berço: Ele não é lindo?
Pois é, falar a verdade nesses momentos pode causar não só um rompimento doloroso como uma depressão pós parto.
Uma vez fui convidada para uma festa de aniversário do filho de uma amiga, o detalhe é que não tenho filhos, aliás, a única do grupo da adolescência que ainda não procriou. Ela me liga, toda feliz e radiante por comemorar o primeiro aniversário do rebento e, deixa claro o tamanho da importância da minha presença lá. Pra começo de conversa, acho uma tremenda bobagem aniversário de um ano, a criança é ainda um bebê, só vai ser estressada pela quantidade enorme de pessoas desconhecidas, pelo barulho que vai atrapalhar sua rotina, pela fantasia, digo roupa, que vai ter que usar, pelos adultos no sense que vão apertá-la, carregá-la no colo, no meio de tudo isso o choro do aniversariante é quase inevitável e, na totalidade dos casos, ele nem sabe que cargas d’água significa toda aquela aporrinhação.
Imagina o incidente diplomático que causaria se revelasse o motivo de minha pouca motivação para comparecer ao evento festivo? Preferi é claro, usar uma das muitas mentiras que semeamos ao longo da nossa vida em prol da manutenção de nossas relações sociais. Alguns anos depois, acabei falando a verdade (e ela concordou comigo) mas ali, na hora, com ela no grau maximo da emplogação,seria fatal.
Mentimos ao responder que está tudo bem quando a vida tá um caos, quando parabenizamos a amiga que anuncia o casamento com aquele carinha mais ou menos, quando estamos naquela festa chatíssima e o anfitrião nos pergunta se estamos gostando. Mentimos quando aquela pessoa inconveniente nos pergunta por que nunca a convidamos para ir à nossa casa e mentimos ao responder que “qualquer dia” iremos à casa dela. Enfim, mentimos porque, na maioria dos casos, falar a verdade é grosseiro e mal educado.
Mentimos para ensinar às crianças que não se deve mentir – Olha, seu nariz vai crescer!- mentimos para salvar nossa pele, para não magoar nem ofender às criaturas mais sensíveis. Mentimos porque entendemos que, quando aquela amiga querida nos pergunta “meu cabelo está horrível né?” na verdade ela quer ouvir uma palavra de apoio e incentivo, tipo “Olha, até que não está ruim...” mentimos porque somos sensíveis e seres altamente sociais, se só falássemos a verdade, toda sociedade ruiria.
Quando uma pessoa me pede para ser totalmente sincera, desconfio no ato. Geralmente elas já sabem a resposta, e apenas procuram a quem odiar por verbalizar a verdade maldita e inevitável.
Confesso que já fui mais sincera, e tinha bem menos amigos, nenhuma amizade resistia aos meus ataques de sinceridade, às resposta certeiras. Entendi que, em alguns casos, a verdade é apenas um acessório e não um termo essencial para as boas relações sociais. Aprendi a viver, ou seja, a mentir em sociedade.
P.S. Acho que até que não deveria ter sido tão verdadeira.

4 comentários:

  1. Confesso que mil vezes tencionei escrever sobre isso e chocar as pessoas...Verdade assusta!
    Gostei muito de sua explanação e sei bem como é difícil...Quem é verdadeiro em demasia, é um ser diferentemente complicado e polêmico...Tenho amigos, os que já se acostumaram e que posso ser o que quiser e os que administro verdades em doses homeopáticas, vai-se vivendo e chocando menos...Mas ainda prefiro as doses cavalares. O hiperbólico exerce sobre mim algo de mágico e essencial.
    Ameei a postagem, seu blog é um maravilhoso ambiente de leitura.
    Abraço.

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  2. Obrigada, Ana. vamos assim vivendo né? administrando as verdades, as meias verdades e, qdo necessário, as inverdades.

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  3. Muito bom Pimentah. Pois é, verdade ou mentira bom mesmo é conversar, trocar ideias (por mais escabrosas que sejam), saber que existe alguém que se importa conosco, mesmo que diga mentiras, verdades ou que nos "esconda" a realidade. Acredito que um bom amigo pode sentir a hora de dizer verdades, mentiras e omitir, sendo até mais amado (futuramente) por conta disso. Mas o desafio em nossas (pelo menos na minha) vidas, é QUANDO...
    Abraço, Pimentah!!

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  4. Perfeito esse post Pimenta! (sem mentira! rsrsr)

    Umas mentirinhas são realmente necessárias para mantermos nossa vida social. Tipo, uma vez a minha ex encheu tanto o meu saco me perguntando se ela tinha engordado que acabaei falando a verdade. Disse que ela tinha engordado um pouquinho sim (diga-se de passagem, o maior pecado que um homem pode dizer a uma mulher) e daí ela ficou uma fera, pelo menos um finde sem falar comigo rsrsrsr

    Enfim, mentir é preciso, ainda que te implorem para dizer a verdade.

    Bjos

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