quinta-feira, 1 de julho de 2010

Eu também sou Dona Flor



Pensei em intitular esse texto, “Toda mulher é Dona Flor”, mas como ainda não recebi procuração para falar em nome do gênero, decidi falar por mim, quem quiser, ou se identificar, se aproprie do conteúdo e, faça suas, minhas peripécias.

Pois bem, eu sou toda Dona Flor, essa mesma, a do amado Jorge, a que tinha dois maridos. Antes de julgá-la (e a mim também), vale a pena conhecê-la. Moça bonita, formosa, toda fornida de carnes, prendada até não mais. Flor, brejeira e romântica, casta e pudica a desabrochar em dengo e no gosto da vadiagem com o ardente Vadinho, seu marido primeiro, depois contida senhora, séria e honestíssima Floripes, a do doutor Teodoro, marido segundo. Entre um e outro, Flor escolhe os dois.

Sim, eu também sou dona Flor, quero o safado Vadinho para a cama e a vadiagem, quero que tire meu chão, me faça sentir mulher, me olhe com desejo e me encha de tesão. Quero a mão safada, a frase sacana dita ao pé do ouvido durante a ceia de Natal em casa daquela tia velha, quero o amasso no cinema, o beijo exagerado roubado no portão de casa, o convite inusitado e fora de hora (se é que existe hora) para a cama ou qualquer outro lugar, desde que seja com péssimas intenções, quero o cara machão, que briga e sai batendo a porta me deixando a falar sozinha, que volta trazendo flores, desfaz minha cara amarrada e me deixa ficar por cima. Quero o Vadinho sem freio, que me faça ter ciúmes e diga ao meu ouvido: “deixa de besteiras, mulher mesmo, pra valer, só tu mesmo, Flor minha”.

Mas quero também Teodoro, que me faça musicas e poemas, que me fale de estrelas e constelações, que me chame “meu amor”, mande flores, puxe cadeiras e abras portas. Quero o companheiro atento, fiel e dedicado, que me cuide quando doente, que ria de minhas piadas e me pergunte sobre meu dia, quero que me elogie e me encante, seja zeloso, protetor e ande comigo de mãos dadas. Que me faça um amor tranqüilo, que me cubra de beijos mornos e me chame de todos os diminutivos do mundo. Quero Teodoro que sempre volte pra casa e, em dias de chuva, me deixe dormir recostada em seu peito. Quero o romance cotidiano e a sensação de proteção.

Agora o que quero mesmo, é tudo isso num combo. Quero que os homens acordem, aprendam a olhar mais de perto. Que asim como eu, e tantas outras mulheres, somos todas dona Flor, sejam também os homens, Teodoro e Vadinho em um só. Fariam tão mais felizes, esposas, namoradas, ficantes, casos, peguetes ou qualquer outro desdobramento.

Ah! Se vocês, homens, entendessem isso, essa coisinha tão simples, essa dualidade das fêmeas, esse ambíguo desejo. Ah se vocês entendessem...

Quantos chifres seriam evitados...




Um comentário:

  1. O que eu achei?
    PERFEITO... Eu quero os dois também, num COMBO.
    Agora o problema é:
    Quando a ciência fabricará esse dito-cujo?
    Porque eu vou querer comprar um!!!

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