Eu não sou racista, até
tenho amigos negros.
Desde que eles não sejam
mais escolarizados, que não tenham um emprego melhor, que não representem
nenhum tipo de ameaça. Desde que não sejam mais autônomos, independentes,
inteligentes ou cultos, que não falem outro idioma, que não sejam profissionais
reconhecidos e competentes, desde que não entendam de assuntos que eu
desconheço, que não discorram desenroladamente sobre qualquer assunto, que não
tenham casa própria ou independência financeira antes de mim, desde que não
tenham lido em um mês mais livros do que um brasileiro comum lê na vida, desde
que eles não se metam e entender de arte, cinema, gastronomia e musica que não
seja axé, funk e pagode.
Eu até tenho amigos negros,
desde que eles não corrijam meus erros ortográficos e de dicção, que seus
cabelos pixaim não chamem mais atenção que minhas lisas madeixas, desde que não
atraiam mais atenção com essa história de conteúdo.
Eu até tenho amigos negros,
desde que eles precisem daquelas roupas que eu não uso mais ou que não me caiu
muito bem, desde que eu possa recomendá-los aos meus outros amigos para que
eles façam serviços domésticos pra ajudar no fraco orçamento familiar.
Não me incomodo em conviver
com pessoas negras, desde que elas estejam em seus devidos lugares, ou seja,
abaixo do meu.
Aos que não se enquadram, eu
faço meu papel e como bom amigo, os advirto de que eles estão falando demais,
que isso é pedantismo e exibicionismo, que as pessoas não gostam de gente assim
que eles devem guardar para si o que sabem, que calados serão melhor aceitos em
qualquer roda onde impere o senso comum, que esse negócio de dizer o que pensa,
mostrar o que sabe é desnecessário, bom mesmo é ficar calado e deixar que eu
fale.
Eu até tenho amigos negros,
desde que me deixem falar por eles que meu pensamento sobreponha-se. Eu até
tenho amigos negros, desde que eles continuem entrando pelo elevador de serviço
e saindo pela porta dos fundos.
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